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'Fiquei paralisada': uberabense vítima de violência obstétrica ajuda outras mulheres como doula e inspira projeto de lei | Triângulo Mineiro


O momento do parto pode trazer um misto de sensações para a mãe. Por um lado, o procedimento é naturalmente doloroso e desgastante. Por outro, a alegria de segurar o filho ou filha nos braços pela primeira vez pode ser recompensador.

No caso de muitas mulheres, porém, o ato de dar à luz foi marcado por traumas. Como foi com a técnica de enfermagem Gabriela Milhorin, de Uberaba, que foi vítima de violência obstétrica, passando por situações constrangedoras antes, durante e após o parto.

A partir da experiência conturbada que viveu, Gabriela começou a trabalhar para que outras gestantes não passassem pelo mesmo problema. A luta dela ganhou força e chegou até a Câmara Municipal de Uberaba, que aprovou um projeto de lei, na última segunda-feira (4), no intuito de combater casos de violência obstétrica no município.

Em entrevista ao g1, ela contou sobre os problemas que enfrentou no tempo em que esteve no hospital e sobre como decidiu dar apoio a outras gestantes. Confira o relato dela abaixo:

Gabriela ficou grávida da primeira filha, Pietra, há 4 anos. Ela conta que, na época, começou a ter perda de líquido e dores parecidas com cólicas. Com isso, decidiu, junto ao esposo, Frederico, procurar atendimento médico.

“Ao chegarmos, fomos recebidos por um médico que solicitou que eu fosse examinada. Ele não fez sequer uma anamnese antes, muito menos olhou meu cartão de pré-natal que constava informações importantes na capa”, lembrou ela.

A bebezinha havia sido diagnosticada com uma obstrução intestinal ainda no ventre e precisaria passar por uma cirurgia assim que nascesse. Quando começou a sentir as dores, Gabriela estava na 35ª semana da gravidez e tinha medo de entrar em trabalho de parto prematuro.

A mãe conta que foi submetida a um exame de toque vaginal muito dolorido e invasivo. Após o teste, segundo ela, o profissional teria dito que a situação de sangramento era normal e que “não aguentava médicos que não orientam os pacientes, que ficam indo à toa ao pronto-socorro”.

“Além da dor que fiquei sentindo durante todo aquele dia, lembro de ficar paralisada, sem ter reação de falar qualquer coisa para me defender. Fui embora naquele dia me sentindo a pior pessoa do mundo, me senti violentada, me senti humilhada”, continua.

Gabriella ao lado da filha, Pietra, em Uberaba — Foto: Gabriela Milhorin/Arquivo pessoal

Gabriella ao lado da filha, Pietra, em Uberaba — Foto: Gabriela Milhorin/Arquivo pessoal

Pietra nasceu 2 semanas depois, após uma cesariana em que Gabriela ficou com as mãos amarradas. Mesmo durante a cirurgia, os médicos também diziam, de forma irônica, que dentro da barriga dela “não tinha bebê, apenas líquido”.

“Vale ressaltar que o excesso de líquido amniótico era justamente pela obstrução intestinal da minha filha e tudo que eu menos queria ouvir naquele momento era aqueles tipos de piadas”, lamentou Milhorin.

Para evitar que outras mães passassem pelo mesmo que ela viveu, Gabriela buscou a formação de doula, profissional que acompanha a gestante durante todo o período de gravidez para dar conforto e apoio emocional. Foi nesse momento que ela percebeu ter sido vítima de violência obstétrica.

“Surgiu em mim a necessidade e desejo de poder ser útil e levar informação para que as mulheres pudessem ser respeitadas e protagonistas de suas histórias de gestação, parto e nascimento de seus filho”, disse.

“Desde então, já atendi mais de 50 famílias. Não consegui proteger todas contra a violência obstétrica, mas, com certeza, elas são acolhidas por mim e sabem dos seus direitos”, completou Gabriela.
  • Leia mais: Entenda o trabalho das doulas que pediam regulamentação de lei em Uberaba

Além do trabalho como doula, Gabriela também decidiu estender a luta pelos direitos das gestantes e puérperas para o ambiente político. Na época, não havia em Uberaba uma lei que combatesse a violência obstétrica.

Em 2020, ela e outras doulas procuraram a ajuda da agora vereadora Rochelle Gutierrez (PP), que, na época, ainda não havia se candidatado, mas atuava como ativista dos diretos das mulheres. O grupo chegou a formular uma primeira proposta de projeto de lei, mas a ideia não avançou para o Legislativo.

“Desde então, a gente foi trabalhando o projeto. Fizemos campanhas, conseguimos também fazer uma pesquisa com mulheres para poder levantar dados. Foi um projeto construído a várias mãos”, disse.

Já neste ano, com uma proposta mais bem estruturada, o projeto foi aprovado por unanimidade na sessão plenária da Câmara da última segunda-feira (4). O texto conta com emendas que exigem que os hospitais providenciem formas de informar gestantes e puérperas sobre os direitos delas e sobre como buscar ajuda em caso de violência.

“Muitas mulheres não conseguem reconhecer a violência obstétrica, mas, quando você pergunta se elas foram xingadas, desrespeitadas, se foi feito algum procedimento sem autorização e elas dizem que sim, passam a entender o que é a violência obstétrica”, afirmou a vereadora durante a sessão.

Vereadora Rochelle Gutierrez (PP) em Uberaba — Foto: Júlio César Sousa/Arquivo pessoal

Vereadora Rochelle Gutierrez (PP) em Uberaba — Foto: Júlio César Sousa/Arquivo pessoal

O documento também defende que sejam consideradas ofensas físicas ou verbais quaisquer atos de violência antes, durante e após o trabalho de parto. Entre os pontos apontados pela vereadora, estão:

  • tratar a gestante ou parturiente de forma agressiva, não empática, grosseira, zombeteira ou de qualquer outra forma que a faça se sentir mal pelo tratamento recebido;
  • não ouvir e esclarecer as queixas e dúvidas da mulher internada e/ou em trabalho de parto;
  • fazer a gestante ou parturiente acreditar que precisa de uma cesariana quando esta não se faz necessária;
  • após o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, demorar injustificadamente para acomodar a mulher no quarto;
  • retirar da mulher, depois do parto, o direito de ter o bebê ao seu lado no Alojamento Conjunto e de amamentar em livre demanda, salvo se um deles ou ambos necessitarem de cuidados especiais.

Agora, o projeto deve seguir para sanção da prefeita Elisa Araújo (Solidariedade).

“[O projeto] Será um dispositivo importante para que as famílias sejam respeitadas, tenham apoio e consigam experiências positivas de nascimento dos seus filhos”, afirma Gabriela.

Apesar de considerar a aprovação do projeto uma vitória, a doula, que está grávida do segundo filho, também defende que a luta ainda não terminou, sendo preciso continuar a combater a violência obstétrica.

“O nosso trabalho continua e vai fazer com que as pessoas conheçam o texto, saibam de seus direitos e sejam apoiadas para denunciar práticas violentas”, completou Milhorin.

Gabriela com Frederico, seu esposo, e Pietra, filha do casal  — Foto: Michelle Oliveira/Arquivo pessoal

Gabriela com Frederico, seu esposo, e Pietra, filha do casal — Foto: Michelle Oliveira/Arquivo pessoal

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Fonte: G1


10/07/2022 – Paranaíba e Máximus FM

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