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A partir desta terça-feira (1º), o MG1 exibe uma série de reportagens especiais para contar um pouco dos 202 anos de Uberaba, comemorados no dia 2 de março. O telejornal mostra três locais que guardam grande parte da história da cidade. O primeiro deles é a Câmara Municipal, o primeiro prédio público de Uberaba.
O Paço Municipal, no Centro da cidade, abriga a Câmara de Vereadores e preserva o Salão Nobre. Pinturas contrastam com a madeira escura e os lustres que vieram da Europa Central para adornar a construção que, antes de ser a casa de leis, foi berço do Executivo.
Aniversário de Uberaba: Câmara Municipal é o prédio público mais antigo da cidade
Não por acaso, sempre que pode, o historiador Guido Bilharinho revisita o casarão e revive as sensações provocadas pelas formas emolduradas que misturam elementos da arquitetura clássica, medieval, renascentista e barroca.
“Na época, não existia Prefeitura; era Câmara. Só passou a ser Legislativo a partir da Constituição Republicana, de fevereiro de 1891. Com essa lei, foi feita a eleição. E o capitão Domingos foi o mais votado. Então, no dia 20 de dezembro daquele ano, Domingos foi até Araxá, onde ele foi empossado e recebeu autorização para instalar em Uberaba a Câmara e dar posse aos demais vereadores. No dia 7 de janeiro de 1837, foi instalada a primeira legislatura na Câmara de Uberaba”, contou.
Historiador Guido Bilharinho no casarão da Câmara Municipal de Uberaba — Foto: Reprodução/TV Integração
Bilharinho explicou que, de 1832 a 1837, Uberaba era distrito de Araxá, que já era um município, mas naquela época, denominava-se vila. Major Eustáquio e outros pleitearam uma lei mineira, na Assembleia Legislativa, que instituía que Uberaba fosse vila e teria independência.
Mas essa lei, de fevereiro de 1836, estabelecia condições: só seria vila ou arraial o local que tivesse um prédio da prefeitura e da cadeia. Então, capitão Domingos, fazendeiro conhecido da região, conseguiu construir o prédio de dois andares.
“Esse é um dos prédios mais importante de Uberaba – se não for o mais importante – no ponto de vista administrativo e político” , ressaltou o historiador.
Prédio Câmara Municipal Uberaba 1837 — Foto: Reprodução/TV Integração
Na obra “Uberaba, princesa do Sertão”, pintada por jovens italianos (veja a imagem logo abaixo), a restauração revelou uma tentativa de fraude. Originalmente no desenho, o gado Zebu, hoje à mostra, estava encoberto.
“Por acaso, na década de 1990, foi feita uma restauração e se descobriu que esse gado havia sido tampado da pintura. Hoje, está o original. Isso mostra uma pessoa desonesta, porque não se pode mexer em uma obra artística de ninguém, ainda mais com essa intenção de tampar o boi zebu, que é a maior marca de Uberaba”, avaliou Guido Bilharinho.
Até 1930, o Salão Nobre era o único da cidade. Todas as reuniões, conferências e as decisões mais importantes eram tomadas nesse espaço. Por causa das preciosidades de guarda, o salão atualmente é aberto apenas para visitação.
“Na Câmara de Uberaba, houve debate, ainda na época do império, sobre a constituição de um Estado. Todos os assuntos passavam pela Câmara, desde os menos importantes até os mais importantes. As decisões da Câmara tinham uma importância que tudo dependia delas”, afirmou Bilharinho.
Pintura ‘Uberaba, princesa do Sertão’ — Foto: Reprodução/TV Integração
E a Câmara – um substantivo feminino – desde sempre, foi majoritariamente formada por homens. Ao longo da história, poucas mulheres ocuparam cadeiras no Legislativo. A primeira a conquistar um lugar foi Helena de Brito.
O ano era 1951. Helena queria ser útil ao povo e a igreja. Recebeu 266 votos. Participou da juventude estudantil, defendeu a criação do cargo de professoras substitutas e atuou em favor da vinda do Serviço Social da Indústria. Numa época de crise e tensão, Helena de Brito foi uma mulher à frente do seu tempo.
No grupo seleto de mulheres em cargos de comando da Câmara, a jornalista Evacira Coraspe foi a primeira – e até agora única – diretora-geral. Servidora desde a década de 1980, conhece cada canto do Paço Municipal.
“Fui construindo a minha história profissional e com afinidade com o Legislativo, em respeito ao que eu sei que esse Poder representa para a comunidade. [Na Câmara] há uma parte arquitetônica e cultural belíssima. Isso possibilitou que eu me conduzisse por todos os cantinhos da Casa, com muita vontade de conhecer mais, preservar tudo que tem importante que tem neste prédio. Além de participar de projetos de restauros e conservação da Casa”, relembrou.
Jornalista Evacira Coraspe com o livro ‘O poder do legislativo através do tempo’ — Foto: Reprodução/TV Integração
Se falar do futuro é valorizar o presente, o prédio abriga um acervo que será transformado em museu. Um dos itens exibidos é um pedaço de boiserie – uma técnica de decoração francesa do século XVIII que insere molduras de diversos formatos na parede.
Curiosidades como esta, sobre o patrimônio histórico, sempre foram tão frequentes que se transformaram no livro “O poder do legislativo através do tempo”.
“Esse livro nasceu de uma parceria com o professor e historiador Pedro Coutinho. Na publicação tem a lista de todos os vereadores e presidentes da Câmara desde 1837. Todas essas perguntas foram transferidas para o livro de maneira educativa”, disse Evacira.
E se, através dos anos, o homem constrói uma trajetória, a jornada do João Adalberto de Andrade tem parte do enredo contada na Câmara.
Andrade atuou em três legislaturas, sendo a primeira em 1973. Na ocasião, o advogado recém-formado teve 1.102 votos.
À esquerda, ex-vereador João Adalberto de Andrade durante mandato na Câmara Municipal Uberaba — Foto: Reprodução/TV Integração
“Eu era um microempresário, tinha um comércio, e estudava advocacia paralelamente. Eu era muito procurado e aquilo evoluiu. Eu sempre tive muita vontade de colaborar com a comunidade, assim como eu já colaborava antes de ter mandato. E coincidiu de eu ser convidado. Tive o prazer de presidir a Câmara no Salão Nobre. É uma história”, relembrou.
Longe da política, João Adalberto hoje pertence ao outro lado do Plenário. Agora, é de uma das cadeiras do povo que reconhece a grandeza e significado do espaço: mais que um espaço físico, a representação da soberania popular.
“É um símbolo de liberdade e democracia”, finalizou.
Ex-vereador João Adalberto de Andrade — Foto: Reprodução/TV Integração