O primeiro deles foi a Câmara Municipal, o primeiro prédio público de Uberaba. Na segunda reportagem, o MG1 mostrou o Mercado Municipal, um dos cartões postais da cidade.

Nesta quinta-feira (3), a reportagem fala da Igreja Santa Rita, outro cartão postal de Uberaba que abriga o Museu de Arte Sacra (MAS) e foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1939.

• PROGRAMAÇÃO: Aniversário de 202 anos de Uberaba tem comemoração com atividades em 15 bairros

Instalação e características

A história da igreja começou com o advogado Cândido Justiniano da Lira Gama, que era alcoólatra. Devoto da santa, Cândido prometeu que construiria uma capela em homenagem a ela caso ele conseguisse se livrar do vício da bebida. A promessa foi concretizada em 1854.

Em 1877, o tempo fez com que a construção singela precisasse de reparos urgentes. A reforma e ampliação da capela, então, foram providenciadas como promessa do negociante Major Joaquim Rodrigues de Barcelos, após ter o pedido de se tornar pai ser atendido por Santa Rita.

Com um estilo arquitetônico intuitivo, onde se reza a missa, também se aprecia a arte. Das paredes ao altar inspirado na matriz de Desemboque, foi a mão de obra escrava que tornou possível a construção da igreja.

“Se vai até à porta, você vê várias construções em volta e a igreja simplesinha, no alto, ‘estou aqui, eu existo’. Para mim, a igreja é importante para Uberaba. Por aqui passaram grandes casamentos, festas, nobres, pessoas de todas as classes sociais. E acho ela fantástica por ser um museu”, afirmou a historiadora Cida Manzan.

As peças barrocas compõem um valioso acervo. Por décadas, o artista plástico Hélio Siqueira se dedicou ao MAS.

“Mesmo quando aqui não tinha nada, com uma porta amarrada com um arame, eu vinha para ver o que estava acontecendo. E descobri, por curiosidade, que a própria imagem de Santa Rita ficava escondida debaixo do altar. Recentemente, um grupo de senhoras devotas resolveu fazer uma doação, chamaram um restaurador, que refez a imagem”, contou Hélio.

A capelinha é símbolo de resistência. Quarta igreja erguida em Uberaba, é uma sobrevivente que ainda esbanja simplicidade e beleza colonial.

“O que existiu mesmo no começo do século era ‘vamos derrubar o passado e transformá-lo em coisas mais modernas’. A conservação era um incômodo. A Igreja Santa Rita estava em fase de ser destruída. Um senhor de 96 anos me contou, lucidamente, que os objetos já estavam aqui que nos outros dias começaria a demolição. E segundo dizem – não sei se é fantasia ou realidade, pois não temos como confirmar – que uma luz brilhava à noite na primeira cruz no meio da igreja. Esse ‘milagre’ ajudou a salvar a igreja da demolição”, relembrou Hélio Siqueira.

Primeira sede dominicana no país, a igreja serviu de lar aos religiosos que vieram a convite de Dom Eduardo. Frei Cristiano, pároco da Igreja São Domingos, guarda uma fotografia inédita (veja acima) trazida do arquivo francês.

“Uma vez, quando fui à França fazer uma pesquisa no arquivo da província dos dominicanos dos franceses, encontrei num álbum de fotografias essa imagem inédita, que eu trouxe e agora está na Igreja São Domingos. Nessa foto está enquadrada a Igreja Santa Rita, o convento, onde hoje é a biblioteca municipal, e a Igreja de São Domingos ainda na primeira fase de construção. Nessa fotografia, também é possível ver uma escadaria de pedra que não existe mais. Provavelmente ela foi aterrada durante a reforma da igreja, na década de 1930”, descreveu o frei.

Na antiga Sacristia, o sétimo mandamento da lei de Deus foi violado e o desfecho dessa história acabou sendo uma coincidência divina.

“Essa história aconteceu há uns 15 anos. Foram furtados alguns paramentos litúrgicos da antiga Sacristia de Santa Rita. E um dia, por acaso, andando pela Feira da Abadia, encontrei essas peças sendo vendidas em uma barraca de roupas usadas. Eu adquiri as peças por um preço simbólico e as trouxe de volta até o museu. Estavam vendendo a R$ 2, porque ninguém sabia o aquilo valia”, relembrou o frei.

A Igreja Santa Rita é também o palco para música erudita em Uberaba. Com a pandemia e a falta de patrocínio, os espetáculos foram interrompidos, mas os artistas são presença constante no local.

Inspiração para o estudante Afonso Henrique de Almeida e Silva, que, pela primeira vez, teve a oportunidade de tocar um piano.

“Eu toco mais o teclado mesmo, que comprei que era mais barato. Recentemente, perdi meu emprego e vim ao Centro para ir ao banco. E acabei passando pela igreja, porque meu professor comentou que aqui tinha um piano que eu poderia tocar para estudar”, contou.

Na igreja da santa das causas impossíveis, o estudante uberabense é mais uma promessa que pode ser cumprida: a esperança de sucesso e reconhecimento de um jovem talento para música clássica.

“Foi a primeira vez que toquei um piano de verdade. Foi uma emoção grande, porque é meu sonho tocar piano. E eu estou estudando há dois anos esperando por esse momento”, finalizou Afonso.

VÍDEOS: veja tudo sobre o Triângulo, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas